Como a troca de experiências e os debates realizados durante o seminário contribuem para a atuação docente e para o desenvolvimento de produtos educacionais no âmbito do ProfEPT?
O Programa de Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica – PROFEPT realizou o VIII Seminário Nacional, Campus Tijuca II do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, evento esse organizado pelo Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), em conjunto com as instituições associadas ao programa, e que tinha como objetivo “garantir unidade ao mestrado em rede, visando propiciar aprofundamentos teóricos de bases conceituais que sustentam o programa, bem como facilitar o planejamento conjunto de componentes curriculares”.
O evento iniciou dia 28 de maio de 2025 com a conferência de Abertura do Prof. Dr. Luiz Antônio Cunha que vinculou sua travessia profissional e formação intelectual com a ‘travessia’ da Educação Profissional e Tecnológica no Brasil. Sem dúvida, é uma das maiores autoridades intelectuais sobre o estudo entre a ditatura civil-militar no Brasil e sua incidência no campo educacional. Sua trajetória acadêmica foi tratada como tema central de sua fala e como referência para que apresentasse os embates teóricos sobre educação, ciência e tecnologia no Brasil e na Alemanha, durante a segunda guerra mundial até o fim da ditadura militar no Brasil. Pautou como era difícil escrever e defender a educação em período de repreensão política, e como esses tensionamentos teóricos foram importante na travessia para a sociedade democrática e para termos debates acadêmicos profícuos como a própria realização de um evento desta natureza, como é o caso do VII Seminário Nacional do ProfEPT.
No dia 29 de maio tivemos a Palestra: “O ProfEPT no cenário da Pós-Graduação stricto sensu: desafios e perspectivas”, tendo como convidada a Profa. Dra. Pollyana dos Santos - Coordenadora Geral do ProfEPT (IFES). Em sua fala, trouxe dados e elementos sobre a importância do Programa para pensar a práxis na Rede Federal, e, por outro lado, os desafios que o maior Programa Stricto Sensu do Mundo representa em termos de manter a unidade sem incorrer na unicidade, construir e fortalecer a autonomia das Instituições Associadas sem causar prejuízo ao objetivo comum e maior que é o fortalecimento teórico e prático de toda a Rede Federal.
Ainda neste dia tivemos a Mesa-redonda: "As bases conceituais da EPT como referência para as Linhas de Pesquisa, Macroprojetos e Disciplinas", tendo como convidados a Profa. Dra. Roberta Pasqualli (IFSC), Profa. Dra. Taniamara Vizzotto Chaves (IFFAR), Profa. Dra Luciana Loponte (IFSul) e Prof. Dr. Marcelo Rythowem (IFTO). Nesta atividade foram destacados os avanços e ganhos teóricos e práticos oportunizados pelo ProfEPT, após tantas diplomações e a elaboração de milhares de Produtos Educacionais, e, por outro lado, os desafios sobre a efetiva inclusão, sobre a identidade do Programa ProfEPT e os desafios práticos de fortalecer a unidade do Programa na diversidade de todas as regiões do país, textos e contextos.
Já a Mesa-redonda "A aderência das disciplinas eletivas com as Bases Conceituais, Linhas de Pesquisa e Macrocroprojetos", tendo como convidadas
Profa. Dra. Maria Adélia da Costa (CEFET-MG) e Profa. Dra. Maria Cristina Caminha de Castilhas França (IFRS) problematizou que mesmo as disciplinas eletivas e as demais disciplinas obrigatórias, independentemente das Linhas de Pesquisa, precisam ter elo forte de correlação com as Bases Conceituais da Educação Profissional e Tecnológica para garantir a unidade na diversidade e que não haja distorções formativas, fazendo com o Programa não apenas seja mal avaliado por não cumprir sua finalidade, mas também o resultado formativo de suas ações, não contribua para o fortalecimento da Rede Federal como um todo.
Ainda na parte da tarde do dia 29/05, os grupos de Trabalho e reuniões por sala, refletiram e avaliação tanto o que são as Bases Conceituais da Educação Profissional e Tecnológica, desafios e possibilidades e as demais disciplinas obrigatórias e eletivas tiveram encontros para reflexão da correlação de suas ações e encaminhamentos com as Bases legais e conceituais da EPT. Foi um momento de preparação para o debate na mesa-redonda sobre a aderência das disciplinas às Bases Conceituais.
Vale ressaltar que ficou estabelecido o compromisso do Programa com as Bases Conceituais da EPT, e acordado a necessidade de uma atenção maior ainda às referências propostas no APCN, que não apenas sejam trabalhadas nas Bases Conceituais, os textos e autores das Bases Conceituais, mas que rigorosamente apareçam como estratégia teórica em todas as dissertações e produtos educacionais, em todas as disciplinas sejam obrigatórias e eletivas, tanto na elaboração dos textos e produtos, como também, como matriz teórica na leitura, análise e organização dos dados e achados nas e das pesquisas. Foi pontuado que muitas pesquisas, tanto na escrita da Dissertação como na proposição de um Produto Educacional, reforçam a perspectiva positivista, empirista e cartesiana, desconsiderando o sentido e o propósito maior do Programa ProfEPT.
No dia 30 de maio a manhã começou com a proposição “Planejamento Estratégico em Foco: Desafios e Perspectivas para o ProfEPT no Ciclo Avaliativo 2025-2028 da Capes”, tendo como convidados o Prof. Dr. Wanderley Azevedo de Brito (IFG), Profa. Dra. Clarice Monteiro Escott (IFRS) e Prof. Dr. Airton José Vinholi Júnior (IMS). Ambos refletiram a partir de dados e observações feitas pela CAPES nas duas avaliações anteriores (2017-2020 e 2021-2025) realizadas com o Programa ProfEPT, para que possamos aprimorar os processos rumo à excelência. Já caminhamos bastante nesta quase uma década de existência do Programa, mas algumas decisões e estratégias planejadas precisam ser tomadas, avaliadas, analisadas e refletidas para ajustes necessários à uma melhor avaliação do próximo Quadriênio.
Na Conferência de encerramento, fomos abrilhantados pela profunda e sábia conferência “Formação humana integral e os desafios da pesquisa em educação profissional e tecnológica” – Profa. Dra. Marise Ramos, onde apresentou a sua trajetória profissional como professora de Química, as lacunas formativas que percebeu em seu itinerário formativo pela falta de acesso e incentivo às Humanidades.
Marise Ramos reclamou da falta de Filosofia em sua formação e de como a EPT muitas vezes adere ao pensamento sociológico, por ele ser intelectualmente mais fácil de ser conduzido, devido seu viés positivista. Como professora de Química, requisitou que as Bases Conceituais da EPT precisam do olhar mais profundo e rigoroso pelo viés epistêmico, para evitarmos as comuns confusões entre o pedagógico, epistemológico e metodológico, típico da pedagogia das Competências, que muitas vezes não distingue nem currículo integrado de Ensino Médio Integrado (modo e modalidade), e não consegue fazer a necessária separação entre o que é de ordem da Aprendizagem e o que é da ordem do Ensino.
Para Ramos, tanto a humanização, como adequada atuação docente na EPT, e, também e principalmente para o desenvolvimento textos, dissertações e de produtos educacionais no âmbito do ProfEPT, há a necessidade de uma profundidade crítica e filosófica, antes de tudo. Para ela, a doutrinação positivista ainda é o mote de nosso processo de ensino, juntamente com a visão cartesiana que compreende o conhecimento dentro de uma perspectiva epistêmica de um fisicalismo racionalista.
Para ela, tanto o positivismo como o racionalismo, precisam primeiro ser entendidos e identificados, pensados, analisados e refletidos, depois, gradativamente superados quer seja pela perspectiva epistêmica do materialismo histórico-dialético (como crítica a Platão, a Escolástica e a Hegel), como pela reintrodução/retomada da perspectiva da formação omnilateral, politécnica, intelectualizada e ‘intelectualizadora’, que tem como base o trabalho como princípio educativo e a pesquisa como pressuposto pedagógico, e que possui como grande inspirador, Antonio Gramsci.
A fala de Marise Ramos foi como alerta para aprofundarmos nossas raízes teóricas na identidade da EPT e não naquilo que a nega. O positivismo por ser um modelo de ensino doutrinador, que não considera as humanidades, e o pensamento cartesiano que desconecta sujeito e objeto, pensamento e realidade, separa tudo em disciplinas quer sejam técnicas ou básicas, impõe ao aprendiz uma visão fisicalista, desconexa e fragmentada. Poderíamos completar esse quadro epistêmico com a proposição de John Locke, que busca no século XII e XIII, a perspectiva de que o aprendiz é tabula rasa, com isso temos o pacote completo de modelos epistêmicos que não humanizam, não produzem autonomia e impedem o acesso ao conhecimento como possibilidade de bom governo de si, de autonomia e cidadania. Para ela, falta-nos perspectivas filosóficas mais sólidaspara garantir a humanização, a formação cidadã, a omnilateralidade e a politecnia.
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